terça-feira, 25 de maio de 2010

Candidatos à Presidência invadem a web atrás do eleitor


22/05/2010 - Flávia Salme - Jornal do Brasil

A 44 dias do início da campanha eleitoral, os principais pré-candidatos à Presidência até aceitam esperar sentados para convencer os eleitores de que possuem as melhores propostas para o Brasil. Sentados, sim, desde que conectados à rede mundial de computadores, ganhando espaço – e seguidores – nos sites de relacionamento que cada vez mais viram febre no país. E em meio a um sem-fim de programas como Orkut, Facebook e Formspring.me, há um eleito: o Twitter – microblog que permite aos usuários trocarem mensagens instantâneas de até 140 caracteres.
Dilma Rousseff (PT) <@dilmabr>, José Serra (PSDB) <@joseserra_>, Marina Silva (PV) <@silva_marina>, José Maria Eymael (PSDC) <@eymael>, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) <@pliniodearruda>, Levy Fidélix (PRTB)<@levyfidelix>, Zé maria (PSTU) <@zemaria_pstu>... todos estão lá, “twittando” freneticamente. Para dimensionar a importância que as redes sociais alcançam neste pleito, todos os pré-candidatos contrataram profissionaispara impulsionar seus relacionamentos virtuais.
– A nossa estratégia é inovar na forma de fazer comunicação na internet utilizando a experiência do que é bem sucedido nas redes sociais – diz Marcelo Branco, que coordena este trabalho na campanha de Dilma Rousseff.
QG virtual
Por “experiências bem sucedidas” cabe destacar que a pré-candidata petista contratou a equipe que atuou na campanha do democrata Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos.
– Fechamos com a Blue State Digital, comandada por Ben Self, e a Revolution Messaging, de Scott Goodstein. Eles não farão as estratégias de marketing, vão nos ajudar com as ferramentas que nos permitam saber o perfil do internauta da Dilma e as melhores maneiras para interagir com eles – assegura Branco, que se afastou da coordenação da Associação de Software Livre no Brasil para navegar na política.
Embora tenha sido um dos primeiros políticos a aderir ao Twitter, José Serra foi um dos últimos a montar uma estratégia para levar a pré-campanha às redes sociais. O jornalista Márcio Aith, que assumiu a área de comunicação da candidatura tucana fechou com o publicitário Sérgio Caruso, que tem a missão de engrenar o processo.
– Traçamos duas prioridades: no site da campanha ofereceremos conteúdo, propostas e trabalho. Será lançado no prazo da legislação eleitoral. A outra frente é o Mobiliza PSDB (mobilizapsdb.org.br), que já está no ar, e reúne diferentes redes sociais montadas em diversas plataformas, como Facebook e Twitter. Por enquanto, essa é a parte mais visível do projeto.
De acordo com Caruso, o carro-chefe até o momento nos relacionamentos virtuais na campanha tem sido o Twitter de José Serra.
– O Serra já incorporou a cultura da internet, do diálogo com os internautas. Isso é muito importante e acaba refletindo nos sites feitos por nós, da equipe, e por voluntários. Ele já tem mais de 236 mil seguidores – ressalta.
Todos os coordenadores das redes sociais dos pré-candidatos admitem que, a exemplo do que aconteceu com a campanha de Barack Obama, a internet também será um espaço para fomentar a arrecadação de recursos para os candidatos.
– Sim, (faremos isso) como em qualquer campanha – informa o sócio-diretor da MVL Comunicação, Nilson Oliveira, um dos líderes das atividades da pré-campanha de Marina Silva.
“Virei um twittador”
Aos 79 anos, o socialista Plínio de Arruda Sampaio não abre mão da plataforma virtual. Diz que conheceu o Twitter por meio do neto. Hoje, arregimenta mais de 4.680 seguidores. Depois de dominar o programa, dedica todas as terças-feiras, das 10h às 13h, para interagir com os internautas.
– Eu virei um twittador. Gosto da imediatalidade das respostas e de mandar mensagens para todo mundo que estiver na jogada. Ele tem sido a salvação da lavoura. Já recebi uma porção de ideias que eu não tinha pensado, mas que vejo como assuntos importantes para acrescentar no meu programa de governo – diz.
Responsável pelas redes sociais da campanha de Plínio, a jornalista Luciana Araújo conta com uma equipe de quatro pessoas para cuidar do site da candidatura, e três para a rede de relacionamentos.
– O site e o Twitter são vertentes diferentes, que se equilibram. Um é mais informativo, o outro é interativo. E a interação nos permite avaliar os ânimos da população em relação a todos os candidatos no processo.
Apesar do indefectível jingle que o acompanha há 25 anos, José Maria Eymael – na “4ª posição na pesquisa CNT/Sensus”, como informa um dos seus posts no Twitter – também montou uma equipe para cuidar da pré-campanha virtual.
– Não é ele que publica todos os comentários, mas ele acompanha tudo pessoalmente. Estamos investindo muito nesse trabalho na internet, que vai fazer a diferença nessas eleições – diz o jornalista Rubens Pavão, coordenador de comunicação do democrata cristão.
De todos os profissionais ouvidos pelo JB, Pavão é o único que não acredita que o Twitter (Eymael tem cerca de 990 seguidores) fará diferença neste pleito. A campanha, informa, também não pedirá contribuições financeiras aos internautas.
– Não acreditamos nisso, pelo menos, até o momento. Nos concentramos em aquecer o debate sobre as propostas do Eyamel.
Especialista diz que rádio e TV são mídias principais
Embora classifique o pleito deste ano como o “primeiro multimídia dentro de uma sociedade da informação e do conhecimento”, o cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acredita que todos os coordenadores de comunicação e marketing vão continuar apostando todas as fichas nas mídias que, segundo avalia, continuam sendo as principais da campanha: o rádio e a TV.
– A internet se popularizou no Brasil. Hoje é acessada por diferentes classes sociais, da chamada classe A até a E. Entretanto, eu acredito que todas as campanhas não estão descuidando do principal, que é a TV e o rádio. Quanto aos sites e aos programas de relacionamento, acho que eles têm importância, sim, mas não os vejo como consolidadores de opinião.
Ao apontar a influência da campanha americana do democrata Barack Obama nas iniciativas dos pré-candidatos brasileiros, Baía diz identificar alguns equívocos nas apostas das equipes de comunicação:
– As pessoas falam na estratégia do Obama, mas é um equívoco. Nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório. O mérito da campanha do presidente americano foi ampliar os colégios eleitorais, ou seja, convencer os eleitores a votar.
Seguidor de todos os pré-candidatos no Twitter e nas demais redes de relacionamentos, além dos sites de cada concorrente, Paulo Baía está convencido de que a internet já impôs mudanças no relacionamento dos pré-candidatos com os eleitores, contudo, ele avalia que ainda é difícil apontar a influência que ela terá sobre o internauta.
– Nesta eleição, os três candidatos mais bem apontados nas pesquisas (Dilma, Serra e Marina) não apresentam focos oposicionistas. É a campanha do pós-Lula, os três dizem que vão continuar o que o Lula fez e aprofundar as ações, principalmente na área econômica e social. A internet está representando um avanço na democracia brasileira, porque permite o que o rádio e a TV não permite: a interação. Mas não sei como ela vai marcar a diferença.
Discurso comum
Os coordenadores das redes de relacionamento das três candidaturas mais bem colocadas nas pesquisas eleitorais têm estilos diferentes, mas um discurso em comum: a meta é fazer com que a internet divulgue o conteúdo das propostas dos candidatos, fomente debates, e ajude a levar informações sobre o desdobramento da campanha para o maior número possível de pessoas. Apesar do consenso, as iniciativas carregam estilos diferentes.
Cabeludo, hiperativamente falante, e compulsivamente “twittador”, Marcelo Branco, coordenador das redes de relacionamento da pré-campanha de Dilma Rousseff, não se afasta da internet. Se apresenta como um ativista autodidata no universo www, e faz questão de ressaltar que seu trabalho junto à petista é apresentar as mais diferentes possibilidades que a rede mundial de computadores oferece:
– Quando a Dilma se desincompatibilizou do cargo de ministra-chefe da Casa Civil, ela me chamou na casa dela para me mostrar a conta que tinha aberto no Twitter. Eu a adicionei e soltei, no meu Twitter, que ela estava na rede. Em meia hora, ela já tinha 1.700 seguidores; em uma hora, 3 mil. Um mês depois, mais de 60 mil. Nada disso foi lançado por meio de release, coletiva de imprensa, nada. A repercussão foi tanta que bateu os tópicos dos assuntos mais comentados no microblog – orgulha-se.
Branco assegura que não intervém no conteúdo das mensagens postadas por Dilma, nem no que integra os sites oficiais da pré-campanha. O que faz, garante, é traçar as ações de estratégia. “A equipe conta com profissionais de marketing e comunicação para tratar dos conteúdos”, diz.
– Sou um ativista digital, não carrego nenhum manual do marketing na rede, sou anti-convencional. Quando me escolheram, sabiam que não poderiam esperar de mim o marketing convencional. Mas o que a gente produziu no Brasil mostra a forma inovadora de fazer divulgação, e que o marketing de propostas políticas tem que ser feito da forma como a gente está fazendo.
Convencido do sucesso de Dilma na internet, Branco faz troça com a atuação do principal adversário da petista na rede:
– Qual a presença (da pré-campanha) do Serra na internet? É zero! Além do Twitter do Serra, que já existia (antes da pré-campanha), não tem mais nada. A não ser domínios como o site Gente que mente e outras coisas para depreciar a campanha da Dilma. Mas até agora, a presença do nosso principal adversário não existe. E eu acredito que, por termos ousado, conseguimos ajudar no crescimento da nossa pré-candidata.
“Quase careca”, com diz, de fala pausada, autor de singelos quatro posts em sua página no Twitter (que não tem foto) e convencido de que o “mais importante na estratégia de campanha é ter um bom candidato”, Sérgio Caruso, coordenador da área de relacionamentos sociais da pré-campanha de José Serra, faz questão de marcar as diferenças que os separam do seu adversário profissional:
– Eu twitto muito pouco, na verdade, o meu Twitter não tem importância nenhuma. Não sou personagem da campanha, não tenho cabelo comprido, sou quase careca. Essa campanha é do Serra. (...) Não acho que a internet seja uma máquina eleitoral, acredito que ela tem o papel de ajudar as conversas, a formar opinião, a divulgar conteúdo. Mas ela não leva 5 milhões de votos. Ajuda na exposição do candidato, e o Serra está indo bem.
Enquanto isso, Nilson de Oliveira, à frente das redes sociais de Marina Silva, apresenta, em estilo sucinto, a estratégia da pré-campanha verde:
– As redes sociais terão o papel que têm na própria internet, de locais de discussão e de conhecimento da futura candidata. (...) O critério (de escolha das redes) será o de audiência e relevância – sintetiza, em quatro linhas de e-mail.

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